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Instituto Estadual de Florestas - IEF

Tecnologia ajuda a preservar maior primata das Américas no Parque do Brigadeiro

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Foto: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)/Divulgação
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A unidade de conservação, administrada pelo IEF, concentra uma das maiores populações de muriquis-do-norte do mundo; confira a videorreportagem


Garantir a preservação de uma das espécies mais ameaçadas do planeta. Esse é o objetivo do projeto Montanha dos Muriquis, que utiliza drones com câmeras de alta definição para o monitoramento e manejo de muriquis-do-norte, maior primata das Américas. O trabalho é desenvolvido no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, localizado na Zona da Mata Mineira. A unidade de conservação, administrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), concentra uma das maiores populações de muriquis-do-norte do mundo, com cerca de 300 indivíduos, quase 30% da população global da espécie.


Desenvolvido pela ONG Muriquis Instituto de Biodiversidade (MIB), o projeto conta com parceria da plataforma Semente, iniciativa do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que destina recursos a projetos socioambientais promovidos no estado. O apoio garantiu aos pesquisadores do Montanha dos Muriquis a aquisição de um drone DJI Mavic 2 Zoom, equipado com câmera grande-angular 4k e zoom óptico de alta definição.


A aeronave, adquirida no final de 2018, teve sua utilização retomada em abril deste ano após paralisação devido à pandemia. O retorno das atividades do projeto marcou também a prospecção de novos pontos de sobrevoo e instalação de novas armadilhas fotográficas no dossel (estrato superior) da floresta. Também conhecidas como câmeras “trap”, as armadilhas fotográficas consistem em uma tecnologia de pesquisa que utiliza câmeras ativadas à distância por sensores infravermelhos, posicionadas nas copas das árvores para registro aproximado dos animais.


MONITORAMENTO

De acordo com o coordenador do projeto, Leandro Moreira, o drone permite o acesso a áreas remotas do parque, normalmente não acessíveis por trilhas. A visualização dos animais é feita a partir da ferramenta de zoom instalada na câmera, para que o ruído da aeronave não espante os grupos monitorados. As informações possibilitam o mapeamento da população existente na unidade de conservação, além da coleta de dados relacionados à idade e sexo de cada indivíduo, obtidos a partir de suas características faciais.


“Desenvolvemos um trabalho de mapeamento de pontos mirantes do parque, onde iniciamos os sobrevoos, buscando indícios dos muriquis nas copas das árvores. As expedições garantem dados essenciais para a conservação das espécies e podem também deflagrar ações pontuais, como o resgate de indivíduos isolados e a identificação de possíveis ameaças à população”, explica Moreira.

Foto: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)/Divulgação
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O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro conta com 11 grupos de muriquis-do-norte catalogados em seu território


Anteriormente, conta o coordenador, os pesquisadores do Montanha dos Muriquis estimavam a presença de onze grupos no território do parque, três deles catalogados apenas a partir de relatos identificados em pesquisas prévias realizadas no local. Com a inserção do drone no trabalho de campo, dez grupos foram confirmados e registrados em vídeo. Os pesquisadores identificaram ainda indícios de três novos grupos, que deverão ser catalogados em novas expedições.


"Temos atualmente onze grupos formalmente catalogados, mas já identificamos fortes indícios da existência de 13 grupos no território do parque e essa contagem, cada vez mais precisa de indivíduos, só foi possível a partir do uso de novas tecnologias de monitoramento", conclui Leandro. 

CRITICAMENTE EM PERIGO

Segundo o pesquisador, originalmente existiam cerca de 400 mil muriquis-do-norte na Mata Atlântica brasileira, bioma endêmico da espécie. Atualmente, existem pouco mais de 1.000 indivíduos sobrevivendo, em sua maioria, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O primata está classificado como “Criticamente em Perigo” na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente (MMA).


A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) considera o muriqui-do-norte uma das espécies mais ameaçadas do planeta, mantendo, desde 2011, o primata na IUCN RedList, inventário mundial de espécies em risco de extinção. O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro é considerado por especialistas um dos mais importantes refúgios naturais da espécie devido à grande extensão de vegetação nativa pertencente ao bioma Mata Atlântica mantida em seu território.


Para a gerente da unidade de conservação, Rosemeire Belcavelo, as ações de preservação realizadas no interior do parque estadual são fundamentais para garantir a continuidade da espécie, bem como o equilíbrio ecossistêmico da região. “Oferecemos alojamento aos pesquisadores, apoio nas expedições e garantimos todas as licenças de pesquisa necessárias à continuidade do trabalho, pois acreditamos que as atividades do projeto são essenciais para que o Parque do Brigadeiro se mantenha como um dos principais viveiros naturais dos muriquis-do-norte” afirma. 


MURIQUI-DO-NORTE

Nativo da Mata Atlântica, o muriqui-do-norte (Brachyteleshypoxanthus) é considerado o maior macaco do continente americano. Atualmente são reconhecidas duas espécies: o muriqui-do-sul, (Brachytelesarachnoides), encontrado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, e o muriqui-do-norte, encontrado nos estados de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e extremo norte do Rio de Janeiro.

 

Foto: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)/Divulgação
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O muriqui-do-norte pode chegar a 1,5 metro de altura, com peso máximo de 15kg


As populações do norte possuem faces e genitália manchadas de rosa e branco e polegar atrofiado, enquanto que as populações do sul mantêm coloração facial e genital mais escuras, não havendo vestígio do polegar. As duas espécies são separadas geograficamente pela Serra da Mantiqueira.


O muriqui-do-norte pode chegar a 1,5 metro de altura, com peso máximo de 15kg. O ciclo reprodutivo da espécie é considerado por pesquisadores um dos grandes desafios à sua conservação. As fêmeas entram em idade reprodutiva somente aos nove anos, tendo quase sempre apenas um filhote a cada gestação, com intervalos de dois e três anos, o que diminui o ritmo de adensamento populacional da espécie. O maior impacto e risco à espécie, no entanto, são as ações antrópicas, sobretudo a fragmentação e desmatamento de seu hábitat.


As quatro maiores populações do muriqui-do-norte, segundo a IUCN, estão nos parques estaduais Serra do Brigadeiro e Rio Doce, ambos administrados pelo IEF, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, no município mineiro de Caratinga, e no Parque Nacional do Caparaó, situado na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo.


PARQUE DO BRIGADEIRO

O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro está localizado na Zona da Mata Mineira, ocupando o extremo norte da Serra da Mantiqueira, a cerca de 290 km de Belo Horizonte. A unidade de conservação tem 14.984 hectares compostos por matas, montanhas, vales, chapadas, encostas e inúmeras nascentes que contribuem de maneira significativa para a formação de duas importantes bacias hidrográficas de Minas Gerais: a do Rio Doce e a do Paraíba do Sul.


Caracterizado pela Floresta Atlântica de Encosta e por Campos de Altitude, o parque possui importância vital na preservação desses dois biomas. A Serra do Brigadeiro é considerada um paraíso botânico, por abrigar espécies raras e ainda não catalogadas pela ciência. A unidade de conservação abrange os municípios de Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Pedra Bonita e Sericita.


Edwaldo Cabidelli
Ascom/Sisema

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