Parque do Ibitipoca inaugura cadeiras para pessoas com necessidades especiais

Ter, 21 de Janeiro de 2020 18:45

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Foto: IEF/Divulgação
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A jovem Tauana realizou um sonho ao chegar na Janela do Céu com apoio dos funcionários do Ibitipoca e de familiares

"Foi um sonho que realizei. Deu até vontade de chorar na hora. Gosto muito de aventura e sempre quis conhecer a Janela do Céu porque é um lugar muito bonito. Espero voltar logo”. A frase da jovem Tauana Aparecida Silva do Nascimento, de 12 anos, moradora de Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, na Zona da Mata mineira, traz um resumo da alegria que tomou conta de frequentadores e funcionários do Parque Estadual do Ibitipoca, unidade de conservação gerenciada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), na manhã desta terça-feira (21/01). Tauana foi uma das três pessoas a inaugurarem as duas cadeiras adquiridas pelo parque, adaptadas para pessoas com dificuldade de locomoção. O objetivo é garantir acesso aos principais atrativos do parque com a ajuda de pessoas que vão conduzir as cadeiras durante as trilhas.


Tauana foi acompanhada de um irmão e da mãe, Maria Francisca da Silva, de 36 anos, que é dona de restaurante. Ela contou com a ajuda de funcionários do Parque do Ibitipoca para chegar até a Janela do Céu, um dos principais atrativos da unidade de conservação, que tem percurso de 16 quilômetros de ida e volta. A família já é frequentadora do parque e, pela dificuldade de locomoção de Tauana, normalmente só conseguia chegar até a Prainha, que é o atrativo de acesso mais fácil, nas margens do Rio do Salto. “Ela gostou demais. Se não fosse a cadeira, ela não conseguiria chegar. Conseguiu realizar seu sonho de aventureira com 12 anos. Foi emocionante ver essa vitória”, diz Maria Francisca.


Tauana usa cadeira de rodas por ter nascido com um encurtamento em uma das pernas e agora encontrou uma forma bem mais fácil de visitar os lugares que ainda não conhece do parque. “Vou contar para todos da escola. Essa cadeira vai ajudar muitas pessoas com deficiência e que sonham em visitar lugares como a Janela do Céu, da mesma forma que eu fiz”, diz ela.


Quem também teve o prazer de testar a novidade foi a jovem Simara Gabriela Ferreira Silva, de 15 anos. Ela foi com o pai, Edison Fernandes da Silva, de 59 anos, que é garçom, até o Lago dos Espelhos, e aproveitou para entrar dentro d’água de cadeira e tudo. Funcionários do parque também ajudaram na condução da cadeira. “Eu tinha muita vontade de conhecer os principais atrativos do Ibitipoca. Fiquei muito feliz e agora eu quero a Janela do Céu", diz ela.


O pai da jovem ficou emocionado com o resultado. Eles frequentam o parque e também só conseguiam chegar até a Prainha pela facilidade desse atrativo. "Ela ficou numa alegria imensa. Foi maravilhoso porque era um sonho que ela tinha. O mais legal disso tudo é que o novo serviço vai ajudar não só a gente, mas outras várias pessoas que agora passam a ter essa oportunidade", diz Edison. A terceira pessoa que também inaugurou a cadeira foi Lucas José Chagas dos Santos, de 27 anos, que é morador de Santa Rita do Ibitipoca e foi ao parque com a mãe e o irmão. Ele não perdeu a chance de tomar um banho nas águas do Lago dos Espelhos. “Sensacional isso aqui. Vale a pena demais. A água estava um pouquinho gelada, mas faz parte”, brinca ele.


Foto: IEF/Divulgação
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Simara Gabriela também aproveitou a nova cadeira e deu um mergulho nas águas do Lago dos Espelhos


A cadeira batizada de Julietti foi desenvolvida pelo engenheiro Guilherme Simões Cordeiro, de 34 anos, para atender uma demanda da esposa, a também engenheira Juliana Tozzi, de 36, moradores de São José dos Campos (leia abaixo). Os equipamentos possuem uma única roda, o que facilita o acesso em ambientes de trilha e acidentados. O portador de dificuldades de locomoção fica assentado em um banco e preso a um cinto. A roda fica em posição central e a cadeira tem dois puxadores nas extremidades, semelhantes aos de uma maca hospitalar, o que facilita a condução sobre solos em desnível. As cadeiras são conduzidas por outras pessoas, a partir desses puxadores de apoio.


As duas unidades foram adquiridas pelo parque com fundos arrecadados em um jantar beneficente, que contou com apoio de diversos parceiros, segundo a gerente do Ibitipoca, Clarice Silva. A gestora da unidade de conservação conta que a emoção invadiu o parque. "Durante o caminho, visitantes ajudaram como voluntários, pediram para poder carregar, se envolveram e bateram palmas. Isso é a coisa mais gratificante que pode acontecer para um gestor. Eu fiquei muito emocionada com essa realização", diz ela.


Para o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, essa iniciativa, além de mostrar respeito humano à diversidade, mostra que temos belezas naturais que todas as pessoas merecem conhecer. “É assim, com uma medida simples, que nós buscamos divulgar as enormes belezas naturais de Minas Gerais, fazer com que as pessoas tenham educação ambiental, conhecimento da natureza, sentimento de pertencimento com meio ambiente além de gerar emprego e renda para a população dos municípios do entorno dessas belezas”, diz o secretário.



Foto: IEF/Divulgação
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Quem também aproveitou uma das novas cadeiras foi Lucas dos Santos: "Sensacional isso aqui. Vale a pena demais"

 

AGENDAMENTO

Clarice Silva explica que o parque vai oferecer as duas cadeiras para quem quiser, de forma 100% gratuita, durante o horário de funcionamento da unidade, das 7h às 17h. Já as pessoas que vão conduzir a cadeira são de responsabilidade dos interessados em fazer as trilhas. Para isso, todas as orientações serão fornecidas por e-mail, incluindo o número de condutores ideal para cada tipo de passeio. Nos mais difíceis, como a Janela do Céu (16 Km) e o Circuito do Peão (10 Km), o mais indicado é que o grupo seja composto de oito pessoas, para que haja um revezamento nos condutores. Nos atrativos do Circuito das Águas (4 Km), o parque recomenda que o interessado em usar a cadeira vá com quatro pessoas no apoio.


O e-mail para agendamento é Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. . Quem não tiver a quantidade de pessoas disponível que possa fazer a condução das cadeiras pode verificar se existe algum voluntário na região do parque. Basta fazer a solicitação pelo e-mail, que também deve incluir a data e o horário de interesse para a checagem da disponibilidade do objeto.


De acordo com o diretor-geral do IEF, Antônio Malard, a inauguração das cadeiras foi muito importante e histórica para o IEF. “Sabemos que muitas pessoas têm o mesmo sonho desses jovens que usaram as cadeiras pela primeira vez. Este projeto é apenas o início de várias iniciativas que pretendemos colocar em prática, para trazer mais acessibilidade nas áreas de uso público de nossas unidades de conservação”, diz Malard.


ORIGEM DA JULIETTI

Levando acessibilidade para vários lugares do Brasil, a cadeira Julietti foi pensada pelo engenheiro paulista Guilherme Simões Cordeiro para atender uma demanda por mobilidade de sua esposa, a também engenheira Juliana Tozzi. Moradores de São José dos Campos, no interior de São Paulo, os dois são montanhistas e há quatro anos, quando Juliana ficou grávida do filho do casal, o pequeno Benjamim, ela desenvolveu uma doença neurológica rara que reduziu sua mobilidade. "Eu disse que onde ela quisesse ir eu a levaria", diz Guilherme, que desenvolveu a cadeira batizada de Julietti para acompanhar Juliana.


Hoje, o projeto é responsabilidade de uma única empresa, para padronizar principalmente as questões de segurança. Depois que o teste inicial para Juliana deu certo, o casal criou o Instituto Montanha Para Todos, ONG que busca arrecadar recursos para desenvolver mais cadeiras. "Através de doações e campanhas, a gente arrecada verba, compra cadeiras e coloca em parques que ainda não têm", diz Guilherme. Segundo ele, com as duas novas cadeiras do Ibitipoca já são 39 unidades espalhadas pelo Brasil, que podem ser consultadas em www.montanhaparatodos.com.br.


Ao ver o sucesso da iniciativa no Parque Estadual do Ibitipoca, Guilherme diz que o casal encontra forças para seguir na luta por mais acessibilidade para quem precisa. "É muito legal. A gente fala que isso faz a Ju melhorar. Estamos vendo que conseguimos mexer em algo que não se pensava há 5 anos. O montanhismo adaptado no Brasil era muito atrasado, então para nós isso é uma vitória. Recebemos vários depoimentos do pessoal usando a cadeira. Muitas vezes a pessoa acredita que só pode ficar dentro de casa depois de uma deficiência. Pensar que uma cadeira simples sem muita tecnologia consegue promover essa sensação é motivador. Dá muito trabalho, mas vamos indo pouco a pouco", completa.

Guilherme Paranaiba e Simon Nascimento
Ascom/Sisema